26 de Abril de 2024

Aplicativo mapeia doações de sangue e leite materno

Domingo, 26 de Agosto de 2018 - 07:39 | Redação

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Aplicativo mapeia doações de sangue e leite materno

A fome afeta cerca de 14 milhões de brasileiros, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrou que 52 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no País. Essa desigualdade social tem encorajado iniciativas voltadas à sustentabilidade e ajuda mútua como o Partake the Bread, um aplicativo de celular lançado em fevereiro deste ano.

Nele, os usuários podem doar e receber alimentos, medicamentos, roupas ou qualquer outro objeto que necessitem. "Estamos focados em reduzir o desperdício reutilizando o que pode ser usado. Queremos ajudar pessoas, animais e contribuir com o meio ambiente pela diminuição do lixo", afirma José Rodrigues, fundador e especialista em marketing digital pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com seis meses funcionando, a plataforma já possui 750 inscritos e teve mais de 550 doações feitas, além de 15 cadastramentos de cachorros e gatos para doação até agora. Em maio, a ferramenta mapeou e divulgou para a Cruz Vermelha os locais de doação a fim de ajudar as vítimas do prédio que caiu no Largo do Paiçandu, em São Paulo.

O projeto tem parcerias com entidades filantrópicas e ONGs, como o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac) e a entidade Meninos e Meninas de Rua, que garante os direitos de jovens sem acesso à educação, saúde e lazer.

Além disso, o Partake the Bread informa onde estão os postos de recolhimento de sangue e leite materno. Nesta semana, a equipe fechou parceria com a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) para divulgar a localização das nove unidades da instituição no País.

Para a professora da FGV e PhD em Estudos de Negócios, Tânia Veludo, a iniciativa permite uma captação prática e eficiente ao envolver a tecnologia. "Isso favorece muito a transparência, o que é fundamental no processo de doação", explica. "Muitas pessoas querem ajudar e não sabem como. Assim, o aplicativo colabora ao permitir que quem quer doar encontre o beneficiário certo".

Brasileiro quer doar - mas nem tanto Antes de lançar o Partake the Bread, José Rodrigues entrevistou 180 pessoas na grande São Paulo e também na internet. Dessas, apenas duas falaram que não fariam doações. "Isso mostra que a maioria esmagadora pensaria no próximo", acredita. No entanto, Tânia aponta que o Brasil ainda tem que aprimorar muito a cultura de doação. "Nós doamos 0,23% [R$13,7 bilhões] do PIB [Produto Interno Bruto], enquanto que a média mundial é de 0,8% e a latino-americana é de 0,4%", afirma com base em dados de 2016 do Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).

Apesar de estar abaixo das expectativas, o levantamento revela que 77% dos brasileiros fizeram algum tipo de benfeitoria, sendo que 62% doaram bens, 52% doaram dinheiro e 34% doaram seu tempo para trabalhos voluntários.

Os números, contudo, não espelham a realidade das doações de sangue. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 1,6% dos brasileiros fazem esse tipo de contribuição.

Expectativas e tendências A necessidade de melhora apontada pela especialista condiz com o desperdício de roupas e comidas existentes no País. "As marcas costumam ter estoques que vão para o lixo, seja por vencimento ou pequenos defeitos de fabricação. Esses produtos poderiam ser reaproveitados", afirma José Rodrigues.

De acordo com a ONU, as produtoras de alimento desperdiçam 22 bilhões de calorias no Brasil, quantia que satisfaria as necessidades nutricionais de 11 milhões de pessoas e reduziria a quantidade de pessoas que passam fome no País em cerca de 80%. Além disso, o relatório A nova economia têxtil: redesenhando o mundo da moda revela que a indústria de roupas desperdiça um caminhão de lixo de resíduos têxteis por segundo.

Assim, o empresário espera atingir 1% da população brasileira com o Partake the Bread para colaborar na mudança desse comportamento. "Há 213 milhões de pessoas no território. Se dois milhões doarem alguma coisa por ano, o Brasil vai ouvir dois milhões de obrigados", diz.

Ele acredita que ações como essa são uma tendência mundial. "Tudo vai ser compartilhado no futuro… carros, caronas, comprar coletivas e doações, por exemplo. A situação está difícil e as pessoas estão procurando alternativas para que todos possam se beneficiar numa ajuda mútua e justa para todos", prevê.

Por esse motivo, Rodrigues pretende transformar sua plataforma em um serviço global e fazer parcerias com empresas alimentícias, têxteis e farmacêuticas. "Queremos atingir vítimas de terremoto, furacão, deslizamentos e refugiados. Teremos a versão em inglês para o mundo todo a partir de setembro", pontua.

Fonte de renda O aplicativo se mantém por meio da venda de espaços publicitários com base no que os usuários anunciam por categoria. "Se postarem um calçado, vai aparecer a propaganda de uma empresa na área", elucida o fundador.

Tânia Veludo explica que as empresas se interessam por ações como a do Partake the Bread, porque o consumidor de hoje está interessado em empresas com responsabilidade social. "A doação traz benefícios para o varejista. No inverno, por exemplo, é comum os comércios recolherem cobertores, e isso acaba gerando tráfego de clientes na loja", afirma.

A especialista acredita também que um dos principais desafios de iniciativas como a de Rodrigues é a captação de recursos. Por isso, o marketing é a opção de renda vantajosa para conectar marcas, consumidores e organizações sociais em uma só plataforma. "Os vendedores querem vincular suas marcas com projetos de doação, porque quem compra estará vendo que o fornecedor do produto está ajudando instituições que estão alinhadas com seus valores", assegura.

Onde encontrar O Partake the Bread está disponível para ser baixado gratuitamente no Google Play e na App Store. Terra

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