11 de Maio de 2024

Refém da Energisa, população de Ribas pede socorro

Quinta-feira, 23 de Novembro de 2023 - 01:00 | Redação

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Refém da Energisa, população de Ribas pede socorro

A péssima qualidade dos serviços prestados pela Energisa em Ribas do Rio Pardo está levando a população ao desespero. Reféns da concessionária, até pedido de socorro já está sendo feito pelos consumidores em função da gravidade da situação.

Oscilações e queda constante no fornecimento de energia, cuja retomada chega a durar até dois dias, demonstram a incapacidade da concessionária de cumprir as metas mínimas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável por regular o setor.

Refém da Energisa, população de Ribas pede socorro

As reclamações dos rio-pardenses não são de hoje. Há anos eles sofrem com quedas constantes no fornecimento, além de oscilação na rede. Com o início das obras da unidade da Suzano na cidade, o que já era ruim acabou piorando ainda mais.

Isso porque o número de moradores que até 2020 era de 25,3 mil pessoas, saltou para 34,8 mil com a chegada dos trabalhadores que hoje estão no canteiro de obras da multinacional.

"A Energisa não se preparou, não se planejou, apesar de deter o monopólio na distribuição de energia", critica o vereador Christoffer Jamesson (PSC), que apresentou na Câmara Municipal requerimento convocando audiência pública para discutir o assunto e cobrar providências urgentes da concessionária. O pedido foi aprovado, mas a data ainda não foi definida.

Apesar de a empresa ter instalado uma subestação na cidade, a demanda continua alta e os novos equipamentos não evitam as quedas no fornecimento e a oscilação constante.

"Vamos reunir o Ministério Público, o Judiciário, a prefeitura, a Câmara, o Procon e também representantes da Annel e da Agems para tratar do tema, já que se trata de um serviço essencial", disse o parlamentar.

Refém da Energisa, população de Ribas pede socorro

Descaso

O anúncio feito por Christoffer Jamesson recebeu apoio do prefeito João Alfredo Danieze (PT), que já enviou diversos ofícios à diretoria da Energisa cobrando melhorias urgentes na qualidade dos serviços.

Em um deles, enviado no dia 13 de outubro, João Danieze cobra do presidente da concessionária, Marcelo Vinhaes Monteiro, a ampliação do número de equipes de reparos e pede ainda reunião urgente para tratar do problema.

O encontro, que era para ser em regime de urgência, aconteceu somente nesta quarta-feira (22), 39 dias após o pedido de agendamento, o que demonstra o pouco interesse da concessionária em resolver o problema.

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Perda de tempo

No final da tarde desta quarta-feira (22), por meio da assessoria de imprensa, Marcelo Vinhaes divulgou nota protocolar na qual apresentou justificativas para a instabilidade – as mesmas que as atendentes do call center da companhia repetem todos os dias aos consumidores indignados que buscam a empresa para reclamar e registrar queixas.

Segundo a nota, "parte das ocorrências está associada ao evento climático severo que atingiu o município no fim de semana".

Sobre as "interrupções pontuais no fornecimento de energia", conforme classificou a concessionária, isso ocorre por culpa do cliente, já que este adicionou novos equipamentos em sua residência ou comércio, mudou o disjuntor e não comunicou o fato à Energisa.

Caso tivesse sido comunicada pelo consumidor, a companhia teria condições de "melhor dimensionar o sistema, minimizando desligamentos não programados".

Sem fato novo

A Energisa informou ainda que no início deste ano realizou inspeções, manutenções, substituições e instalações de equipamentos na rede elétrica, como transformadores, chaves e cabos.

E ainda que "até o fim de 2023 estão programadas novas podas de árvores no município, tendo em vista que o impacto no fornecimento de energia, em 80% dos casos, é oriundo do contato da vegetação com a rede de elétrica".

Se na reunião com a diretoria da Energisa o prefeito João Alfredo recebeu essas mesmas informações do presidente e da área técnica da companhia, teria sido melhor ele mandar um assessor para representá-lo, já que nada de novo foi anunciado.

Prejuízos

O empresário Anderson Lucas Gallacci, dono de uma empresa que vende acesso à internet e de uma creche, é um dos que amargam prejuízos financeiros por conta da má-qualidade dos serviços da Energisa.

"Há seis anos operamos aqui em Ribas e sempre foi assim. Piorou com o início das obras da Suzano, pois diversas construções começaram a surgir na cidade, o que aumentou a demanda", disse o empresário.

As oscilações e interrupções no fornecimento vêm provocando a queima de modens cedidos por ele aos clientes em sistema de comodato. "Temos que substituir os que estragam e, em outros casos, deslocar nossas equipes para reconfigurar os aparelhos, o que aumenta a demanda de serviços e os custos da empresa", explicou Gallacci.

Equipe reduzida

Atuando na mesma área comercial, Ewerton Correia Guedes calcula ao menos R$ 10 mil em prejuízos com a queima de equipamentos que ele cede em comodato aos clientes.

Ele avalia entrar na Justiça contra a Energisa para ser ressarcido pelos prejuízos e não espera melhorias nos serviços da concessionária, pelo menos a curto prazo.

"Apenas duas equipes cuidam de toda a rede em Ribas. Uma atua na cidade e a outra na área rural. Não vão dar conta nunca", aposta Ewerton.

Área rural

Quem também está bastante irritado com a Energisa é Sílvio dos Santos Menezes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.

"No Assentamento Nossa Senhora das Graças, a energia caiu às 20h de domingo, dia 19, e só foi restabelecida às 2h da madrugada de terça-feira (21), ou seja, 30 horas depois", contou.

"No mês passado aconteceu a mesma coisa. Foram dias sem energia. A gente telefona, eles dizem que irão religar, mas não cumprem os prazos que combinam", desabafa Sílvio, ao explicar que o assentamento está localizado a apenas 8 quilômetros do centro de Ribas, na rodovia BR-262.

"Não é local de difícil acesso", reclama. No Assentamento Mutum, esclarece, "a Energisa só substitui os postes de madeira pelos de concreto quando os primeiros caem, pelo tempo de uso. Por que não troca todos de uma vez? Isso evitaria a suspensão do fornecimento de energia a cada ventania".

Mais reclamações

O radialista Pedro Claro, da rádio 90 FM, recebe diariamente centenas de reclamações de seus ouvintes. "Todos os dias ocorrem de três a quatro oscilações e a energia cai. Pode contar no relógio", garante.

A emissora, conta ele, já teve de substituir três transmissores. "No domingo, a Vila Nova passou a noite toda sem energia", disse Pedro Claro, que orienta os seus ouvintes a formalizar as reclamações no Procon Municipal.

Contato com a Aneel

Os problemas enfrentados pelos rio-pardenses já chegaram ao conhecimento da Agência Estadual de Regulação do Estado de Mato Grosso do Sul (Agems).

O presidente da Agência, Carlos Alberto de Assis, juntamente com o diretor de gás canalizado, energia e mineração, Matias Gonzales Soares, estão em Brasília, onde participam de reuniões com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e com a Associação Brasileira de Agências Reguladoras (ABAR).

Na pauta, a energia e a busca de qualidade em sua distribuição. "Já repassamos à Aneel as informações sobre a situação em Ribas", disse Gonzales.

Ele explicou que dois técnicos da Agems estão no município, onde permanecem até sábado levantando informações, cujo diagnóstico será repassado à agência federal.

"O que ocorreu no município de Ribas do Rio Pardo foi o crescimento exponencial da população em pouquíssimo tempo, o que demandou muitos investimentos da concessionária", disse Matias Gonzales.

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Reclamação à Aneel

De acordo com Marcelo Salomão, ex-superintendente do Procon Estadual, em casos como esse em Ribas, o melhor caminho para o consumidor é registrar a reclamação na Ouvidoria da Aneel.

"O volume de reclamações influencia a análise do desempenho da concessionária pela agência reguladora. Reclamação acima do normal significa que ela não está atingindo as metas estabelecidas em contrato, o que pode lhe valer multa e influenciar negativamente quando a concessionária solicitar reajuste do valor da tarifa", explicou Salomão.

Para formalizar a queixa na Ouvidoria, antes o consumidor tem de registrar a reclamação em um dos canais da companhia.

No site, pelo WhatsApp Gisa (67) 99980-0698, pelo call center 0800 722 7272 ou pelo aplicativo Energisa ON, que pode ser baixado na Play Store, tanto para desktop ou celulares Iphone ou Android.

Com o número do protocolo da Energisa em mãos, caso o problema não seja resolvido em tempo razoável, o consumidor deve acessar o site Consumidor.Gov, logar com os dados pessoais cadastrados na plataforma Gov.Br e formalizar a queixa à Ouvidoria.

A presidente do Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa MS (Concen), Rosimeire Costa, também orienta no sentido de o consumidor tentar primeiro resolver o problema pelos canais da concessionária antes de acionar a Aneel.

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