"Vereadores usam emendas para fazer caixa de campanha", diz assessor da prefeita

O diretor-adjunto da Subsecretaria de Articulação Social e Assuntos Comunitários (SUASC) da Prefeitura de Campo Grande, Fábio Rocha, acusou vereadores de utilizar parte de dinheiro de emenda parlamentar para fazer caixa para a campanha eleitoral.

As declarações polêmicas foram feitas durante transmissão do podcast Se Liga Eleitor, transmitido pelo Youtube na última sexta-feira (17).

Durante a entrevista, o gestor afirmou, sem citar nomes, que parlamentares da capital pedem devolução de parte dos valores das verbas de emendas visando "se municiar" para campanhas eleitorais.

A fala ocorreu quando ele contava ter conseguido em Brasília, mesmo sem mandato político e sem o salário e verbas de gabinete que possuem os vereadores, emendas no valor de quase R$ 10 milhões para obras de pavimentação em Campo Grande.

Nesse contexto, ele indaga: – por que então os vereadores não fazem isso?  "Aí é que tá. Muitas vezes é melhor investir a sua emenda em projetos sociais e em igrejas", disse.

E arremata: "Cê vai lá, pastor, quanto cê tá precisando pra equipar aqui a igreja? Pra por os bancos? Ah, preciso de R$ 10 mil e tal. Se eu te mandar R$ 20 mil? Ele vai ficar todo faceiro, precisava de R$ 10 mil. Ok? Ok. Vou te mandar 50, você me devolve 30. Então é aí onde os caras vêm municiado pra campanha (sic)", afirmou Fábio Rocha.

"Isso eu sei porque todos os projetos sociais, tem vários que vocês perguntarem, que recebem essa proposta. Tem os vereadores sério, que trabalham, e também têm aqueles que fazem o errado", ressalta Rocha.

A fala causou reação entre parlamentares e o presidente da Câmara Municipal, Carlos Augusto Borges, o Carlão, entrou em contato com o secretário de Governo da prefeita Adriane Lopes, João Rocha, para cobrar retratação ou que ao menos sejam apontados os nomes dos vereadores acusados pelo diretor.

Caso a exigência não fosse cumprida, o vereador disse que iria registrar boletim de ocorrência por calúnia. Ainda ontem, Fabio Rocha teria telefonado para Carlão com o objetivo de esclarecer a polêmica.

Gosta dos vereadores

Segundo o site de notícias Investiga MS, Carlão informou que o adjunto da subsecretaria alegou que "o vídeo foi editado", que "ele gosta dos vereadores de Campo Grande" e ainda que "não teve a intenção de ofendê-los".

Ainda de acordo com o site, o presidente da Câmara teria solicitado a Fábio que este passasse a ter mais cuidado com as palavras. O vereador teria solicitado a íntegra do vídeo para avaliar o contexto das declarações do assessor de Adriane Lopes.

Conhecimento de causa

Telefonema feito, pedido de desculpas aceito, o que significa que não será registrado boletim de ocorrência contra Fábio na delegacia de polícia por crime de calúnia.

O que chama a atenção é que as denúncias são graves. Na condição de adjunto da SUASC, Rocha sabe do que está falando quando faz esse tipo de afirmação.

A pasta pela qual ele responde trata justamente da execução de projetos na área social, para os quais é destinado parte do dinheiro reservado pelos vereadores por meio das emendas parlamentares.

Além disso, ao se justificar ao presidente da Câmara dizendo que na entrevista não estava se referindo aos vereadores de Campo Grande, fica a dúvida sobre que Rocha quis de fato dizer quando afirmou, sobre a suposta devolução de parte do dinheiro de emendas na forma de propina, que "isso eu sei porque todos os projetos sociais, tem vários que vocês perguntarem, que recebem essa proposta".

O diretor-adjunto da SUASC tentou se tornar vereador na capital no pleito de 2020 pelo Republicanos, mas não foi eleito. Obteve 3341 votos.