Prefeitura despeja favelados e anuncia doação de área a empresários

A Câmara Municipal deve discutir em breve pedido de autorização feito pela gestão Marquinhos Trad para a doação de área pública de mais de 6,5 mil metros quadrados, avaliada em R$ 9 milhões, à uma rede de concessionárias de veículos de Campo Grande. A proposta surge no momento em que a prefeitura despejou 25 famílias que ocupavam também uma área pública do município no Bairro Parque do Sol.

A cortesia com o chapéu alheio vai beneficiar a Ulsan Import Comércio de Veículos Ltda, que já tem duas revendas de veículos na Capital. A área em questão está localizada na Rua Elvira Coelho Machado, no Bairro Chácara Cachoeira. De presente da gestão Marquinhos Trad, caso os vereadores avalizem esse absurdo, a empresa vai ganhar ainda a redução de 5% para 2% na alíquota do ISS e redução de 50% no valor do IPTU pelo período de 5 anos.

A contrapartida da concessionária para ter direito aos privilégios concedidos por meio do Programa de Incentivos para o Desenvolvimento Econômico e Social (Prodes) e aprovados pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico (Codecon) se restringem à contratação de toda a mão de obra para a construção do empreendimento por intermédio da Fundação Social do Trabalho (Funsat) e ainda a adesão ao Selo de Compromisso com a Igualdade de Gênero, nos termos do Decreto Municipal n. 13.248, de 18/08/2017.

A responsabilidade agora está com a Câmara de Vereadores, a quem caberá aprovar ou não a cortesia que o município pretende fazer com chapéu alheio.

Despejo

Enquanto os empresários comemoram a possibilidade de ganhar esse presentaço da gestão Maqruinhos Trad, 25 famílias em situação de extrema miserabilidade amargam o abandono a que foram relegadas no domingo passado, dia 20, após terem sido despejadas de uma área pública da prefeitura no Bairro Parque do Sol.

Com pás-carregadeiras, servidores do município destruíram barracos de madeira e lona e deixaram os sem-teto no meio da rua, muitos deles crianças e idosos.

A moradora Alessandra Benites Duarte, de 40 anos, vive com mais 4 pessoas em um dos barracos da ocupação, uma delas seu marido, além de dois adolescentes e uma criança, segundo noticiou o site Midiamax. "Eu estava acordada e começaram a destruir o [barraco] da minha sobrinha, mesmo ela dormindo com criança e tudo. Destruíram tudo e estão destruindo com um monte de criança e família que tem filho pequeno", disse.

Alessandra diz possuir inscrição na Agência Municipal de Habitação há 25 anos, tempo que está a espera de um terreno para construir a sua casa. Ao falar sobre como ficará a situação da família daqui pra frente, a moradora afirma que vai para a casa de alguém enquanto ergue novamente seu barraco. "Eu vou erguer aqui de novo, vou dormir e vou erguer de novo. É derrubando e erguendo", aponta.

Cristão?

Ao dar as costas aos necessitados, o prefeito Marquinhos Trad demonstra não ter qualquer compromisso com a Justiça Social, foco do discurso messiânico que costuma marcar suas aparições públicas e nas redes sociais. Seu comportamento também o afasta do conceito cristão de tocar a gestão pública que tanto apregoa.

Na campanha pela reeleição, em 2020, Marquinhos Trad prometeu a conclusão da construção de 1.513 casas e apartamentos populares, e ainda a construção de outras 2.800 moradias. Não se sabe se ele cumpriu essa promessa, mas o certo é que a fila de espera pela casa própria só aumenta, o mesmo ocorrendo com relação às invasões de áreas públicas e assentamentos.

Em novembro do ano passado, a Central Única de Favelas de MS (Cufa) apurou que Campo Grande tinha 39 favelas. Ao ser confrontado com os números, o prefeito rebateu: "– Não existem favelas na Capital". É o Marquinhos sendo o Marquinhos.