Vereador coloca Câmara em situação constrangedora ao propor tour pelo Butantan
Terça-feira, 26 de Janeiro de 2021 - 10:59 | Redação
Integrante da Comissão da Câmara Municipal criada para acompanhar a distribuição e aplicação das vacinas contra a Covid-9 em Campo Grande, o vereador adepto da cloroquina Dr. Sandro Benites (Patriotas) colocou a Câmara em situação constrangedora ao propor um tour às instalação do Instituto Butantan, em São Paulo, responsável pela produção da vacina da CoronaVac.
Ainda não está claro o motivo da visita, que corre o risco de não ocorrer, mas tudo indica que a eventual “inspeção” terá resultado zero, o mesmo efeito placebo do uso da cloroquina e ivermectina no tratamento "preventivo" ao novo coronavírus, profilaxia defendida pelo vereador antes de ser eleito e que incentivou o prefeito Marquinhos Trad a torrar mais de R$ 2,4 milhões do dinheiro público com a compra do medicamento apenas para fazer média com eleitores bolsonaristas – três vezes mais do que gastou com a aquisição de kits para exames da doença.
Na ocasião, Marquinhos Trad aproveitou o embalo para implorar pela ajuda do presidente Jair Bolsonaro no sentido de o governo federal enviar cloroquina para Campo Grande. Ele gravou vídeo nesse sentido ao lado do vereador Sandro Benites. Clique aqui e assista.
A ideia "original" do vereador Dr. Sandro Benites foi apresentada ontem em reunião com os demais membros da comissão, composta pelos também parlamentares Beto Avelar, Clodoilson Pires, Dr. Jamal e Professor André Luiz. Do encontro participou ainda Dinaci Ranzi, assessora da Secretaria Municipal de Saúde.
Dinheiro jogado no raloEssa foi a primeira “reunião técnica” da comissão, que deliberou sobre a visita ao Instituto Butantan, que evidentemente vai ser feita com a utilização de dinheiro do contribuinte. Segundo o site de notícias Campo Grande News, o vereador Dr. Sandro Benites se candidatou a uma das duas vagas no tour logo após ele próprio ter apresentado a proposta.
Ele justifica a viagem dizendo que vai “conhecer onde a vacina está sendo feita, para assim, trazer novas informações para Campo Grande”. É difícil imaginar quais seriam essas informações, ao menos relativas à Covid-19, que o parlamentar esperar obter na visita. No entanto, ele deu uma pista ao anunciar que vai aproveitar a viagem para aprimorar seus conhecimentos.
Na condição de médico responsável pelo Centro Integrado de Vigilância Toxicológica (Civitox) do Hospital Regional, às expensas da Câmara Municipal o vereador Sandro iria discutir também com colegas do Butantan questões relativas a animais peçonhentos.
Cloroquina e ivermectinaEm julho do ano passado, juntamente com outros médicos, Sandro Benites esteve na Câmara Municipal defendendo o uso da cloroquina, ivermectina e outros compostos em processos de prevenção à Covid-19, apesar de a Ciência já ter descartado qualquer eficácia desses medicamentos no tratamento da doença, podendo inclusive agravar o quadro de saúde dos pacientes, provocando até a morte.
Sandro Benites junta-se a vozes anticiência, como o presidente Jair Bolsonaro, ao defender o uso desses fármacos. O evento na Câmara no ano passado foi a senha para que o prefeito Marquinhos Trad, candidato a reeleição, adotasse na Capital o kit-covid, composto por HidroxiCloroquina 400mg ou Cloroquina 250mg, Azitromicina 500mg ou Claritromicina 500mg e ainda a Ivermectina 6mg.
Até agosto do ano passado a prefeitura já havia empenhado R$ 2,4 milhões para adquirir esses medicamentos, que transformados no kit-covid foram distribuídos aos postos e demais unidades de Saúde do município.
"Demonização" dos medicamentosNa época, Sandro Benites disse que o coquetel foi “demonizado” no Brasil. “Demonizaram uma medicação extremamente segura, usada há mais de 90 anos. Uma medicação barata. Todos os militares que são transferidos para a Amazônia recebem um kit. Não temos notícias de óbitos. Se é uma medicação segura, por que demonizar? O que tem por trás disso? Quando você demoniza uma medicação simples, você cria um medo mórbido do remédio”, destacou.
Anvisa esclarece o vereador
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a hidroxicloroquina é indicada para pessoas com artrite, lúpus, doenças fotossensíveis e malária. A ivermectina, para infecções provocadas por vermes e piolho.
A azitromicina, um antibiótico, tem aval da Anvisa para tratamento de bronquite, pneumonia, sinusite e faringite, bem como de algumas doenças sexualmente transmissíveis. Já o colecalciferol e o sulfato de zinco não passam de suplementos vitamínicos.
É para se protegerem dessas doenças que os militares transferidos para a Amazônia recebem o kit. Para o tratamento ou prevenção à Covid-19, o uso desses medicamentos não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS.