23 de Abril de 2024

Sem receber o 13º salário, enfermeiros da Santa Casa suspendem atividades

Terça-feira, 22 de Dezembro de 2020 - 08:07 | Redação

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Sem receber o 13º salário, enfermeiros da Santa Casa suspendem atividades

O caos financeiro em que se encontra a Santa Casa de Campo Grande não tem fim. Desta vez, em plena pandemia do novo coronavírus, os serviços prestados pelo hospital à população correm o risco de serem suspensos ou reduzidos por conta de calote no pagamento do 13º salário dos profissionais da instituição. A situação pré-falimentar da unidade é fruto da gestão do ex-presidente Esacheu Nascimento, eleito em 2016 e que abandonou o posto neste ano para se aventurar como candidato a prefeito da Capital pelo Partido Progressista (PP). Após deixar a Santa casa atolada em dívidas, ele recebeu pouco mais de 10 mil votos nas urnas.

Na manhã desta terça-feira, cerca de 200 enfermeiros suspenderam as atividades em protesto pelo calote no pagamento da gratificação natalina. Eles deveriam ter recebido no dia 30 de novembro metade do 13º terceiro e ontem, 21, os outros 50%. O presidente da Associação Beneficente de Campo Grande (ABCG), mantenedora do hospital, o corretor de imóveis Heitor Freire, em reunião com os funcionários há cerca de 10 dias garantiu que o pagamento seria feito integralmente na segunda-feira, o que não ocorreu. Ele foi vaiado quando chegou à unidade na manhã de hoje.

Sem receber o 13º salário, enfermeiros da Santa Casa suspendem atividades

Burocracia

A ABCG aguarda repasse de dinheiro, cerca de R$ 11 milhões, liberado pelo Governo do Estado para socorrer o hospital no pagamento da gratificação natalina. Como a gestão da Saúde é da prefeitura de Campo Grande, os recursos foram depositados na conta do município, que por questões burocráticas atrasou o repasse ao hospital. Lázaro Santana, presidente do Siems (Sindicato dos Enfermeiros de Mato Grosso do Sul), apelou para que o prefeito Marquinhos Trad se sensibilize com a situação dos profissionais da Saúde e libere logo o dinheiro.

"Mais de 40% dos profissionais estão trabalhando e ninguém vai deixar de ser atendido", disse ele, ao explicar que para a Santa Casa receber o dinheiro o prefeito tem de publicar no Diário Oficial do Município decreto autorizando o repasse. Ele lembrou que para os profissionais que estão na linha de frente no atendimento às vítimas da Covid-19 a situação é dramática. "Muitos adoeceram, muitos faleceram. Não ter o salário para se manter torna a situação mais desesperadora ainda", destacou.

Na tarde de hoje os profissionais voltam a se reunir para deliberar se mantêm ou não a paralisação, que será suspensa apenas após o pagamento da gratificação natalina.

Caos financeiro

A Santa Casa de Campo Grande permaneceu durante oito anos sob intervenção da prefeitura da Capital. De forma irresponsável, com apoio na época do Ministério Público Estadual e do governador André Puccinelli, o então prefeito Nelson Trad Filho decretou a medida para "sanear" as dívidas do hospital, que giravam em torno de R$ 57 milhões no ano de 2005.

Oito anos depois, em 2013, o hospital foi retomado pela ABCG com dívidas de R$ 160 milhões. A associação conseguiu reduzir o rombo para R$ 50 milhões já no final de 2015, quando a entidade era presidida por Wilson Teslenco.

No início de 2016, Esacheu Nascimento assumiu a presidência no lugar de Teslenco, tendo sido reeleito em 2017 para mais um mandato de dois anos. No final de 2019 foi reeleito para o terceiro período na presidência, desta vez de 3 anos, por conta de alterações no estatuto social da ABCG.

Em março de 2020, no início de seu terceiro mandato, Esacheu abandonou o hospital, renunciando à presidência recém conquistada para tentar se eleger prefeito de Campo Grande. Na ocasião, a dívida do hospital já havia saltado de R$ 50 milhões (2015) para impagáveis R$ 290 milhões – valores de 2019, segundo a Câmara Municipal. Atualmente, as dívidas do hospital, que se encontra em situação pré-falimentar, ultrapassam R$ 300 milhões.

Dança das cadeiras

Após abandonar a presidência, Esacheu Nascimento foi substituído pelo economista Heber Xavier, que também renunciou em função de não ter conseguido implementar mudanças no modelo de gestão do hospital implementado por Esacheu Nascimento. Esse mesmo motivo (má-gestão) levou diversos outros conselheiros e diretores a renunciarem ao longo dos últimos cinco anos não só aos seus mandatos, mas também à condição de associados da ABCG.

Após a renúncia de Heber Xavier, assumiu a presidência o corretor de imóveis Heitor Freire, que até então ocupava o cargo de vice-presidente e que hoje vem mantendo o equivocado e ineficaz modelo administrativo herdado de Esacheu Nascimento.

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