20 de Abril de 2024

Câmara e Arquidiocese discutem meios de combate à violência na Capital

Terça-feira, 24 de Abril de 2018 - 10:47 | Redação

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Câmara e Arquidiocese discutem meios de combate à violência na Capital

Por meio de uma parceria com a Arquidiocese de Campo Grande, a Câmara Municipal realizou no dia 23 audiência pública para discutir o tema abordado na Campanha da Fraternidade de 2018: “Fraternidade e Superação da Violência”. Representantes de diversos segmentos estiveram no Plenário Oliva Enciso, na sede da Casa de Leis, para sugerir políticas de prevenção e combate às mais diversas formas de violência.

“Estamos, no nosso dia a dia, a mercê da violência. Se tiver uma gestão séria, que invista e sem desvios na segurança, podemos diminuir os índices de violência em nosso país. Aqui, vamos colher sugestões para encaminhar ao Executivo Municipal, que faz sua parte com a atuação da Guarda Municipal. Se não nos manifestarmos, não vamos a lugar nenhum. Pagamos nossos impostos para termos segurança. Vamos tirar encaminhamentos e somar com os da audiência que a Assembleia Legislativa vai realizar”, afirmou o vereador Ayrton Araújo, um dos proponentes da audiência.

Câmara e Arquidiocese discutem meios de combate à violência na Capital

De acordo com o Arcebispo Metropolitano, Dom Dimas Lara Barbosa, a campanha deste ano aborda a superação de todas as formas de violência. "A campanha tem uma metodologia desenvolvida para associar a fé e a vida. Cada ano a igreja católica aborda um tema relevante para a sociedade. Este ano abordamos a superação de todas as formas de violência", disse.

Para o Padre Agenor Martins da Silva, coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Campo Grande, a violência é uma ação que acompanha o homem desde os primórdios. “Ela, no seu nascedouro, vem reconhecendo esse conflito. A construção das sociedades. A violência é algo tão profundo que é também um dos elementos básicos da sagrada escritura. Em todos os livros, em todas as situações a gente encontra a questão da violência bastante aflorada. Não temos a pretensão de eliminar a violência. Superar a violência significa criar métodos para que ela atinja o menor grupo possível de pessoas, ou cause o melhor dano possível. Isso é um sonho”, reconheceu.

Câmara e Arquidiocese discutem meios de combate à violência na Capital

Segundo o vereador André Salineiro, as audiências públicas para discutir sobre a violência têm rendido frutos. “Trazer não só pessoas que têm conhecimento na área, mas também trazer a população, e isso é de fundamental importância. Segurança pública, às vezes, falamos que muito se fala e pouco se faz. Violência é igual saúde. A pessoa só dá valor, pela dor. O Brasil, hoje, é o 7º no mundo do homicídio doloso por grupos de 100 mil habitantes. Temos que investir em prevenção, educação e policiamento. Precisamos de políticas públicas que levem em conta o médio e longo prazo, não apenas o curto prazo. Países que mudaram sua forma de encarar a violência se preocuparam, principalmente, com educação”, ponderou.

Para o vereador Dr. Wilson Sami, a sociedade deve resgatar alguns princípios deixados de lado para combater a violência. “Temos que falar de resgate de valores que se perderam, da família, de bons costumes. Não abandonar o jovem, sairmos com uma proposta concreta daqui. Temos que fazer um trabalho eficaz e parar de tapar o sol com a peneira. Se não resgatarmos isso, vamos continuar vendo tudo isso que acontece”, analisou. “Queremos a participação de vocês nesta Casa, ajudando-nos a criar leis e a fiscalizar. Os encaminhamentos serão importantíssimos para o bom andamento da segurança pública da nossa cidade”, complementou a vereadora Dharleng Campos.

Câmara e Arquidiocese discutem meios de combate à violência na Capital

Problema de polícia – As mais diversas formas de violência não podem ser encaradas como um problema a ser resolvido unicamente pela segurança pública. A opinião é de dois policiais militares que participaram da audiência: o Major Antônio Neto, que representou a Polícia Militar, e o deputado estadual Cabo Almi, que falou em nome da Assembleia Legislativa.

“Acredito que não temos investimentos na área da educação, o que influencia todos os segmentos sociais. Acredito que todo o corpo social tem responsabilidade nisso. Quando falamos disso, não falamos somente em desigualdade econômica, mas também de falta de acesso a bens materiais e imateriais, como lazer e cultura. Também podemos falar de falta de sistemas morais minimamente eficazes. Hoje, temos uma sociedade mais liberal e, na hora de se colocar um freio, principalmente nos jovens, encontramos dificuldades. A violência não é somente uma questão policial. Precisamos investir na educação, reduzir a desigualdade social e, também, no combate à corrupção”, considerou o oficial.

“O tema é bastante abrangente. Não dá para responsabilizar a violência apenas sobre a questão policial. Na maioria das vezes que a força policial atua, a violência já se concretizou. A má formação da família pode ser, também, um fator de violência. O exemplo dos pais, falta de controle, também é um fator determinante. Só de sermos fraternos, termos humildade, respeito pelo semelhante, uma boa parcela da violência diminui entre nós”, analisou o deputado.

Para a vereadora Enfermeira Cida Amaral, a violência pode ser vista de diversas formas. “Falar de violência pra mim é muito complexo, ainda mais quando a gente fala de violência direta, cultural e institucional. Eu sei que temos vários bairros populosos que não tem infraestrutura adequada para atender toda a população, e estão querendo cobrar das famílias, acreditando que são elas as grandes responsáveis pela violência, e nós sabemos que não são. Como parlamentar me questiono, o que estamos fazendo para amenizar o sofrimento dessas famílias? Eu me atrevo a dizer que deveríamos ter no mínimo, mais segurança no ir e vir de todos e educação de qualidade. Assim poderíamos reduzir o número de presídios com segurança máxima. Assim poderíamos reduzir também a fome, que é uma forma de violência. Pra mim não tem nada mais dolorido do que estão fazendo com as famílias, com os idosos e crianças. Que leis são essas, que políticas publicas são essas que não funcionam? Mas isso parte de mim e de você, quando não lutamos para ver um resultado melhor. Quando nos colocamos no lugar do próximo, entendemos mais e assim conseguimos ajudar as pessoas que precisam.  Na minha percepção como parlamentar, precisamos trabalhar em prol das famílias, fazendo leis, fiscalizando e fazendo valer nosso trabalho”.

Fábio Julio Branqueli, do Instituto Desenvolvimento Evangélico, cobrou mais políticas públicas para a juventude. “Não seria uma violência tantos parques sem uma praça para as crianças praticarem esportes? Não seria violência a pequena porcentagem que destinamos à cultura? Acho que nossa violência vai muito além do que pensamos. Prevenção não é onde mais investimentos, infelizmente”, lamentou.

Já a vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil), Maria Isabela Saldanha, destacou a necessidade de aprovação de um fundo municipal voltado exclusivamente para investimentos na segurança. “Já estamos próximos de nos tornar um narcopaís, pois não há investimento na fronteira. Estamos cobrando, agora, o Prefeito que devolva a esta Casa o projeto que cria o fundo de recursos para a segurança pública para que haja um trabalho resolutivo neste sentido”, defendeu.

Forma de violência pouco comentada e ainda tido como tabu na mídia, o suicídio também foi foco do debate. Para Roberto Sinai, coordenador do Grupo Amor à Vida na Prevenção ao Suicídio, “precisamos estar dispostos a ouvir o próximo”. “O suicídio é uma violência que tem atingido muitas famílias. Temos um suicídio no mundo a cada 40 segundos. Isso é muito grave. Em Campo grande, o suicídio é a terceira causa de morte, atrás do trânsito e do homicídio. Podemos evitar 90% dos suicídios, desde que os sinais sejam percebidos cedo, em casa. Uma dor não compartilhada dói mais. Precisamos estar dispostos a ouvir o próximo, pois temos observado muitas pessoas vivendo sozinhas dentro da multidão e dentro de nossas casas. Que possamos refletir sobre isso, que possamos resgatar todos os valores da família, prevenir. O suicídio não tem remédio”, disse.

Por fim, o presidente da Comissão Por Um Asfalto Digno, Ary Fialho, destacou a necessidade de dar continuidade ao debate. “Esta ação deve ser permanente. O que não tem acontecido, infelizmente, nas audiências que tenho participado, é a criação de um comitê ou uma comissão, não importa o nome, que dê continuidade ao acompanhamento da ação. Nossas ações têm sido interessantes, muitas sugestões, mas não observamos o acompanhamento, a luta para que isso aconteça. A persistência deve ser nossa marca para chegarmos onde desejamos”, finalizou.

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